sábado, 29 de novembro de 2008

Sobre as reclamações da vida

Durante o trajeto de 8 minutos entre o Bairro São Pelegrino e o Kayser, no Visatão linha Ana Rech - Salgado Filho. Entra uma senhora em torno de 50 anos, cabelo curto pintado de um tom caju avermelhado, com várias sacolas. Ela encontra uma conhecida que está sentada no fundo do ônibus que indaga se está tudo bem. Segue o seguinte papo:

- E aí mulher, como tá? Quanto tempo!
- Pois é né. Vamo levando...
- Já comprou teu ingresso pra festa no Santa Fé?
- Não vai dar. Tudo depende de como estiver o João.
- João teu marido? Que tem ele?
- Tá com esclerose.
- Jura?? Meu Deus. Não sabia! Desde quando?
- Já faz mais de ano. Tenho que ajudar ele a fazer tudo. A comer, a tomar banho, a tudo. Ele não tem como sair sem ter alguém junto pra ficar de olho.
- Mas meu Deus... não sabia..
- É, pois é. Mas.. vamo levando.
- Que coisa... E teu filhote, já deve tá bem grande né?
- Tá. Mas tá doente. Já levei ele no médico essa semana. Asma, bronquite, tudo junto.
- Mas meu Deus... É, com essa mudança de temperatura não tem como ter saúde.
- Pois é. Mas tamo vivo.
- Isso é verdade, graças a Deus... E essa chuva em Santa Catarina, que horror né? Escuta, não era tu que tinha parentes lá?
- Sim, nem me fala. Meu primo e a esposa tão desabrigado. Tão alojado num ginásio do bairro. A casa deles ficou alagada até a altura da janela. Perderam tudo. Devem tá indo pra casa de uns parentes que não tão na área de risco. Isso se conseguirem chegar até lá, já que tá tudo bloqueado.
- Mas meu Deus....
- Pois é né? Mas, tem que levar, não adianta.
- O importante é que tão bem. Mas escuta, tu tem visto a Silvia?
- Ah tu não soube? Ela não tava muito bem...
...

Não sei dizer qual foi o problema da Silvia, porque esse foi o momento em que desembarquei do ônibus. Mas depois de todo esse papo-tragédia que pode ter tido seus ápices de exagero, a primeira coisa que me veio à mente foi: "e eu aqui reclamando de falta de tempo, por ler o livro do Chatô...".

A gente reclama demais da vida.... pois é... "tamo vivo e vamo levando".